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2005/01/31

Elegia segunda - Sebastião da Gama

Todos os pássaros, todos os pássaros
Asas abriam, erguiam cantos,
De Amor cantavam.
Todos os homens, todos os homens,
De almas abertas, de olhos erguidos,
De Amor cantavam.
De Amor cantavam todos os rios,
Todas as serras, todas as flores,
Todos os bichos, todas as árvores,
Todo os pássaros, todos os pássaros,
Todos os homens, todos os homens.
De Amor cantavam...


2005/01/30

Sem tema...

Hoje não encontrei um tema, um assunto, uma ideia, uma imagem para depositar aqui. As que tive, passaram breve e rapidamente, qual borboletas etéreas num campo florido... Mas amanhã é outro dia e há que sorrir para ele...

2005/01/29


Esta é provavelmente a mais perfeita paisagem de Inverno que alguma vez vi... Trata-se de um pendente Arte Nova, criado por René Lalique, que pode ser admirado, tal como tantos outros, num Museu em Portugal, mais propriamente no Museu Gulbenkian.

2005/01/28

Citação...

"Não me importa saber se é estreito o caminho, ou se são duras as penas impostas pelo rito, eu sou o dono de meu destino, sou o capitão da minha alma."
William Ernest Henley


2005/01/27

Oiro / Carlos de Oliveira

O dia acende
o teu olhar
e não te deixa
adormecer
sem que essa luz
seja cravada
pelo punhal do sol
na eternidade,
halo breve
e doirado
como o poema.

2005/01/26

O Chapéu...

Como é meu costume diário, fui logo de madrugada "testar" o tempo com uma espreitadela pela janela, uma mirada rápida às estrelas que ainda persistem aquela hora e são visíveis além do brilho das lâmpadas de mercúrio e uma breve saudação à Lua, que atingiu esta semana a plenitude magnífica do seu círculo brancomarfim... Reacção imediata a este ritual diário: ia congelando a ponta do nariz...
Impunha-se pois, medidas drásticas de combate e resistência a esta vaga de "calor siberiano" que anda por aí a rondar... para além dos agasalhos normais decidi-me a recorrer a uma peça de equipamento que não parece ser muito comum, apesar de ser algo de que gosto bastante... um simples chapéu... sim, porque os neurónios não crescem nas árvores e os poucos que cá andam têm de ser bem tratados... Melhor pensado, melhor feito e lá fui eu de chapeuzinho enfiado na carola a caminho do comboio, avenida fora, aconchegadinha e sorridente...
É claro que tive uma outra vantagem ao levar o meu chapelito... fartei-me de rir com as caras de tolas das pessoas a olhar para mim... bem sei que não sou uma top-model, nem nada que o valha (nem queria ser...credo!), mas realmente as pessoas continuam a achar estranho ver alguém de chapéu... e isto apesar deste ser novamente um acessório da moda feminina... acho que no final, preferem passar frio a sentirem-se objecto de observação por parte dos outros... realmente, ando a crescer... já lá vai o tempo em que ligava a essas coisas... felizmente!

2005/01/25


Melancolia...

Hoje foi um daqueles dias em que a mera menção de trabalho nos faz sorrir e pensar noutra coisa qualquer, no filme que se deseja ver, no livro que se quer ler, naquela pessoa especial que está longe e, simultaneamente, tão perto, nos amigos, nas memórias de outros tempos...
Dei por mim a vaguear por aí (pela net, leia-se), sem destino marcado, um passeio por janelas abertas para outras realidades, janelas encadeadas em pensamentos, com nexo e sem ele, cruzamentos de existências e, por vezes, de sonhos... senti-me sorrir pelo que ia lendo, a somar dois mais dois, a antever possíveis conclusões, a formular felicitações aos que se atreviam a derramar nestas páginas virtuais, sentimentos e estados de espírito, confidências e emoções... abstive-me porém de deixar o meu comentário, de marcar presença... limitei-me a proferir as minhas palavras num murmúrio vago, interior, mutismo assumido num acto de pensar...
Pensar que, a partir de uma certa altura, parece que tendemos a complicar as situações... um comentário simples pode ser visto como uma intromissão, carregar-se de segundas e terceiras intenções, submeter-nos a julgamentos e avaliações, e em última análise, proporcionar um distanciamento... é interessante considerar que aquilo que para nós é uma mera manifestação de simpatia e amizade potencial, pode ser considerado por outro alguém, como uma invasão do seu espaço...
Não me posso impedir de pensar também que muitas das pessoas com que me vou cruzando já não sabem encarar esse tipo de dedicação e conceito de amizade... e estranham, e estabelecem um “perímetro de segurança”, refugiam-se nos seus “mundos”, erguem defesas... e é nesses momentos que me lembro e recordo com prazer como as coisas eram tão simples quando éramos pequenos, miúdos traquinas e sorridentes, sem preocupações, quando bastava um simples “queres ser meu amigo?” para se cativar alguém ou mesmo um simples sorriso e uma piscadela de olho, antes de sair pelo recreio fora em brincadeiras e correrias cúmplices...
Mas se calhar aqui o bicho raro sou eu que acredita ainda neste tipo de amizade, simples, que tem saudades desses tempos de miúda e que fica com um sorriso enorme de cada vez que vê um amigo...


2005/01/24

Back to Business...

É bom de imaginar que a vontade de regressar ao trabalho é menor que nula, em especial com este friozinho que anda a rondar, mas teve de ser...
Começou mesmo bem o dia, com um frio desgraçado, um nevoeiro cerrado e uma humidade estranha que se entranhava nos ossos. A corridinha para o comboio, a corridinha para o autocarro, o pequeno-almoço, esse ao menos é em paz e sossego, e finalmente, o regresso ao trabalho, depois de uns dias de férias, que afinal descambaram em ataque de gripe furiosa...
Panorama laboral em resumo: seis pessoas no sector, duas em casa de molho, com gripe, uma foi ao médico, outros dois visivelmente contaminados, com consulta marcada, e eu, estoicamente a tentar resistir a nova contaminação... animador não é? Bem, pelo menos já tenho o computador de volta e arranjado, pensei eu... pensar, até pensei bem, porém... estava como novo sim senhora, mas a informação preciosa que lá tinha... puffffffffff... lost into oblivion! E Backup's é coisa desconhecida por estas paragens, apesar de inúmeros avisos... mas verdade seja dita, nem sou técnico de informática...
A verdade verdadinha é que, ao contrário de outras alturas, não estou minimamente preocupada com isto... de uma forma estranha consegui relativizar a importância de tudo isto, encarei o assunto com toda a calma... no stress, take it easy, é mesmo esse o espírito... as coisas vão-se recuperando com o tempo, à medida que forem sendo necessárias... e o que se perder de vez... é porque afinal não era tão importante assim...
Gosto mesmo de me sentir assim bem-disposta, mas é melhor ter cuidado e não desatar aqui a rir como me apetece, ainda ficam com a certeza que sou meio doida e lá se vai a reputação corporativa... hehehehehehehe

2005/01/22

Odd days...

Uma carta, uma música, uma disposição... há dias assim, em que tudo se combina e coincide em momento de esplendor único, nem sempre perceptível para quem observa de fora... Se a música fala por si, pelo poder que encerra, a ligação com a carta será menos óbvia, pelo que deixo também o seu significado... quanto à disposição, essa é gloriosa, plena de segurança e confiança, naquilo que sei que sou, que sinto e que vivo...

Queen of Swords

The Card: The Queen stands in a field of wheat. The grasses blow gently in the breeze as she hold her sword casually with both hands.
The Interpretation: An intelligent and highly perceptive woman; decisive; penetrating; versatile; uses her skills to her own advantage.


Princes Of The Universe - Queen

Here we are. Born to be kings.
We're the princes of the universe.
Here we belong. Fighting to survive.
In a world with the darkest powers.
And here we are. We're the princes of the universe.
Here we belong. Fighting for survival.
We've come to be the rulers of your world.
I am immortal. I have inside me blood of kings.
I have no rival. No man can be my equal.
Take me to the future of your world.
Born to be kings. Princes of the universe.
Fighting and free. Got your world in my hand.
I'm here for your love and I'll make my stand.
We were born to be princes of the universe.
No man could understand. My power is in my own hand.
Ooh. Ooh. Ooh. People talk about you...
People say you've had your day.,
I'm a man that will go far.
Fly the moon and reach for the stars.
With my sword and head held high.
Got to pass the test first time - yeah.

I know that people talk about me I hear it every day.
But I can prove you wrong cos I'm right first time.
Yeah. Yeah. Alright. Watch this man fly.
Bring on the girls.
Here We are. Born to be kings. We're the princes of
the universe. Here we belong. Born to be kings.
Princes of the universe. Fighting and free.
Got the world in my hands. I'm here for your love.
And I'll make my stand.
We were born to be princes of the universe.


2005/01/21

Ligaram-se...

Ligaram-se, estabelecendo pontes que colmataram a distância.
- Como estás?
- Estou cansada, mas bem... e tu? como estás?
- Também estou bem...
Desenharam-se sorrisos em ambos, cúmplices enigmáticos, significados mudos, desfilaram letras e sentidos, linhas de conversa e confidências trocadas... Despediram-se até ao dia seguinte, sempre com um sorriso, repleto de certezas e confiança... eles sabiam, e naquele momento foram omnipotentes, seguros e superiores a tudo o mais...
Ele partiu. Ela retirou-se para recuperar forças, depois de um dia esgotante. Depois, retomou o seu lugar na secretária, verificou a correspondência, actualizou a agenda, estranhou o silêncio e colocou algo a tocar, algo próximo de uma sensação de pureza e absoluto, pelo menos por aquele momento... Sigur Ros ia servir...
E foi então que aconteceu... uma energia renovadora invadiu-a, ainda dormente das palavras absorvidas antes, um frenesi absurdo, um apetite de combater com garras e o poder de uma lâmina fiel todos os demónios que afrontavam alma e corpo! Uma ferocidade avassaladora, um espírito guerreiro que assomou e se transcendeu enquanto vontade e ser... ultrapassando a força bruta das armas, recorrendo ao poder temível da pena, soltando as letras que brotam, animadas por uma força única que só ela reconhece...
E sobrevém-lhe o prazer de se sentir livre, sem limites, nem obstáculos intransponíveis... nada é impossível, nada! Sente-se invencível, dona e senhora de um Destino que traçou, que escolheu, sabe agora que aí reside a sua força, naquilo que sabe ser e nas suas convicções, porque pelo menos nisso será sempre única... desenha-se novamente um sorriso, que já traz mais que um enigma, significa vontade, consciência de si e poder, mais do que nunca emerge essa segurança, que sempre esteve lá, oculta, aguardando pelo momento certo, sabedoria de mulher que se sabe capaz de conquistar tudo a que se propuser...
Parou de escrever e espreguiçou-se languidamente, sorriu deitando um olhar pela janela em direcção à Lua e piscou-lhe o olho numa cumplicidade de séculos... as it was, as it is, as it will be, acordaram como ferro em brasa estas palavras no pensamento, onde sempre estiveram e estarão. Soltou uma gargalhada quando se lembrou dos que a rodeiam, blessed be the innocent, não era assim? nem imaginam quanta firmeza se esconde atrás do seu silêncio, não conseguem imaginar tudo aquilo que ela é, desistem rapidamente da dura tarefa de a cativar e conhecer, "poor fools" murmura...
Acabou-se o album, terminou a muscia, aproveitou e arrumou o caderno e a caneta de tinta permanente, desligou-se... deixando um sorriso bailar-lhe nos lábios, pleno de significados e entrelinhas...



De Volta pro Aconchego - Dominguinhos

Estou de volta pro meu aconchego
Trazendo na mala bastante saudade
Querendo um sorriso sincero, um abraço
Pra aliviar meu cansaço
E toda essa minha vontade
Que bom poder tá contigo de novo
Roçando teu corpo beijando você
Pra mim, tu és a estrela mais linda
Seus olhos me prendem e fascinam
A paz que eu gosto de ter
É duro ficar sem você
Vez em quando
Parece que falta um pedaço de mim
Me alegro na hora de regressar
Parece que vou mergulhar
Na felicidade sem fim.


2005/01/20

Ondas do mar de Vigo - Martin Codax

Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo?
E ay Deus, se verrá cedo!

Ondas do mar levado,
se vistes meu amado?
E ay Deus, se verrá cedo

Se vistes meu amigo,
o por que eu sospiro?
E ay Deus, se verrá cedo

Se vistes meu amado,
por que ey gran coydado?
E ay Deus, se verrá cedo!


E porque nem sempre os motivos das lembranças são claros, hoje saiu-me esta da caixinha da memória, um ar medieval, num piropo contemporâneo, uma Cantiga de Amigo, daquelas que se recitavam no liceu, sob risinhos e troça e sorrisos marotos... pergunto-me... será saudade de um tempo, de algo, de alguém, que me puxa por estas letras?

2005/01/19


L'important, c'est la Rose...

Enquanto esperava que o pc acabasse de "abrir", ia bebericando uma chávena de chá quente (menta, chá verde, limão e ginseng, não soa nada mal ao paladar...) e dei por mim a cantarolar uma música que, verdade seja dita dita, só devo ter ouvido com atenção uma vez ou duas... O importante era a rosa, dizia... e por muito tempo, perguntei-me o que raio fazia ali a rosa no meio daquela canção, que eu até achava triste... um dia que alguém me disse, "mas a rosa é tudo aquilo que quisermos", mas foi daquelas coisas que são ditas e que remetemos para o esquecimento porque não nos interessam no momento...
Porque é que a fui recuperar hoje? Não sei... mas creio que agora sei que a "rosa" pode ser tudo o que queremos: Amizade, Carinho, Amor, a própria Vida, mas sobretudo, Esperança...
Ah! e também pode ser Confiança!

L'important, c'est la rose / Gilbert Bécaud

Toi qui marches dans le vent

Seul dans la trop grande ville
Avec le cafard tranquille du passant
Toi qu'elle a laissé tomber
Pour courir vers d'autres lunes
Pour courir d'autres fortunes
L'important...

L'important c'est la rose
L'important c'est la rose
L'important c'est la rose
Crois-moi

Toi qui cherches quelque argent
Pour te boucler la semaine
Dans la ville tu promènes ton ballant
Cascadeur, soleil couchant
Tu passes devant les banques
Si tu n'es que saltimbanque
L'important...

L'important c'est la rose
L'important c'est la rose
L'important c'est la rose
Crois-moi

Toi, petit, que tes parents
Ont laissé seul sur la terre
Petit oiseau sans lumière, sans printemps
Dans ta veste de drap blanc
Il fait froid comme en Bohème
T'as le cœur comme en carême
Et pourtant...

L'important c'est la rose
L'important c'est la rose
L'important c'est la rose
Crois-moi

Toi pour qui, donnant-donnant
J'ai chanté ces quelques lignes
Comme pour te faire un signe en passant
Dis à ton tour maintenant
Que la vie n'a d'importance
Que par une fleur qui danse
Sur le temps...

L'important c'est la rose
L'important c'est la rose
L'important c'est la rose
Crois-moi

2005/01/18

Reflexões...

Esta semana decidi ficar em casa, acabar de gozar as minha férias de 2004, gastar algumas das inumeras horas extraordinárias que fiz e não tive oportunidade de gozar, fazer um trabalho sobre formação interna para um curso, estudar para o teste e, finalmente, curar-me desta gripe que me tem deixado dores no corpo e um cansaço brutal... escusado será dizer que estou sem vontade de estudar para o teste, sem vontade de fazer o trabalho, sem vontade de voltar para o emprego... poderá ser uma influência nefasta da gripe... talvez... mas por outro lado, poderá ser também uma vontade subreptícia de libertação da conformidade imposta pela chamada "vida laboral"... é engraçado como ainda ontem em jeito de resposta a uma mensagem alguém me brindava com "a não-submissão aos dias que passam"... não me pude impedir um sorriso em relação a isto... é bonito falar de independência, and so on, de libertação de amarras filiais, de vida própria, e não vou negar que não faz eco cá no íntimo, que não é uma necessidade sentida, todos os dias de forma mais ou menos crua, mais ou menos dura, mais ou menos intensa...
Mas... e o "mas" é fundamental, na minha perspectiva, há que entender quando se faz uma sugestão assim, que cada ser tem uma realidade própria... pergunto-me se o facto de, a um dado momento em que me vi realmente só, decidir permanecer junto da família terá sido uma má opção? Não o creio... apesar de à primeira vista ter perdido alguma da minha "liberdade", porém verdade seja dita... qual era o interesse de uma liberdade solitária e infeliz? Talvez tenha aceite uma realidade "limitativa" a alguns olhos, não vou dizer que não o é, realmente há dias em que me apetece "bater com a porta" e fugir... porém, também me conheço o suficiente para saber que, neste momentos de crise por que a minha família (e tenho gosto em dizer esta palavra em todo o seu significado) está a passar, a minha presença se torna fundamental, constituo o principal pilar de apoio deles, pelo que jamais iria considerar deixá-los desamparados... Compreenda-se, não é receio de viver a vida, é sentimento de pertença, é amor filial... e sei que, aqueles que verdadeiramente me conhecem, compreendem e aceitam, e sobretudo, me apoiam e me ajudam, quando chega o meu momento de precisar de desabafar, simplesmente ouvindo, compreendendo, demonstrando carinho e afeição...
Porque no final de contas, digam o que disserem, se gostamos de alguém, se temos amizade por alguém, o que verdadeiramente importa é aceitá-lo como é, enquanto pessoa válida e que nos pode trazer alguma contribuição para a nossa vida, para o nosso crescimento pessoal e intelectual, independentemente da realidade que escolheu e que vive... a isso chama-se tolerância e distingue-nos, pela positiva, de tudo o resto... Ainsi soit'il!


2005/01/17


I Can See Clearly Now

I can see clearly now, the rain is gone
I can see all obstacles in my way
Gone are the dark clouds that had me blind
It's gonna be a bright (bright), bright (bright)
Sun shiny day

I think I can make it now, the pain is gone
All of the bad feelings have disappeared
Here is the rainbow I've been prayin' for
It's gonna be a bright (bright), bright (bright)
Sun shiny day

Look all around, there's nothin' but blue skies
Look straight ahead, nothin' but blue skies
I can see clearly now, the rain is gone
I can see all obstacles in my way
Gone are the dark clouds that had me blind
It's gonna be a bright (bright), bright (bright)
Sun shiny day


2005/01/16


Sonho...

Estava frio. Deitou-se e enroscou-se como um gatinho pequeno... ficou ali quietinha e quente às escuras, imersa em sonhos... os olhos brilhavam como estrelas no firmamento negro, um sorriso aflorou-lhe lentamente no rosto de lua cheia, um calor especial atravessava-lhe o coração e a alma, numa sensação de infinita felicidade... um sentimento tão puro e único tinha-se revelado... ainda se recordava bem daquele dia em que tinha finalmente percebido esta sensação, que como um relâmpago a havia iluminado... tinha querido ignorá-lo tanto tempo, feito de conta que era uma ilusão, uma tolice da imaginação, tinha-o confundido com amizade, pura e simples... e no entanto, agora sabia que era bem real... assustadora e deliciosamente real... Sentia-se tranquila, capaz de enfrentar ventos e marés, percebia agora aquilo que a alma lhe ditava havia dias, aquela inquietude estranha que a animava... afinal era somente o momento de revelação a chegar... aquele tempo e espaço em que se admite ou se perde... e ela tinha assumido... mesmo sabendo que há realidades paralelas, que há certezas inquestionáveis... sentia-se feliz, imensamente feliz como há muito não acontecia... tudo acontece em devido tempo, pensou... amava, amava alguém de uma forma especial, com uma intensidade unica... sentiu-se confortada com esta nova e bela visão, recordou as palavras trocadas e toda a intensidade que descobriu nelas e que tentou retribuir, sorriu novamente, sentindo o coração leve como uma pluma... demorou-se com prazer na memória da última conversa, tão doce, e inquietou-se na expectativa de uma próxima... só finalmente, cedeu ao sono e ao sonho, como uma criança de berço, iluminada e abençoada pela luz de uma Lua crescente... com a certeza íntima que amanhã a certeza seria ainda maior, a vontade, o desejo, o sentimento, a felicidade de ser e de amar...

2005/01/15

O Sorriso / Eugénio de Andrade

Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.

2005/01/14

Jura - Carlos Tê / Rui Veloso

Jura que não vais ter uma aventura
Dessas que acontecem numa altura
E depois se desvanecem
Sem lembrança boa ou má
E por isso mesmo se esquecem

Jura que se tiveres uma aventura
Vais contar uma mentira
Com cuidado e com ternura
Vais fazer uma pintura
Com uma tinta qualquer
Que o ciúme é queimadura
Que faz o coração sofrer

Jura que não vais ter uma aventura
Porque eu hei-de estar sempre à altura
De saber
Que a solidão é dura
E o amor é uma fervura
Que a saudade não segura
E a razão não serena
Mas jura que se tiver de ser
Ao menos que valha a pena


Um ser especial deixou-me este "mimo" no post de ontem... admito que me contagiou e passei o dia de hoje a recordá-la e a cantarolá-la pelos corredores do trabalho... em última análise, diria que me percebi em algumas ocasiões a olhar feita tola para lado nenhum, perdida em pensamentos, com um sorriso nos lábios...
Um beijo para ti que estás desse lado do pc... :o))


2005/01/13

Manhã de chuva...

Amanheceu, entre nuvens a prometer chuva e uma neblina persistente, que coava a luz do sol nascente por uma cortina ténue de tule cinza... num dia assim, apetece mesmo ficar no choco, qual pinto recém-nascido entre as asas da mãe... apetece enroscar-se num cobertor quentinho, a ver passar as nuvens lá fora, submersos na modorra dos sonhos...
Há alturas em que este ambiente poderia convidar à invasão da tristezas, desses pensamentos obscuros que no tocam naquela corda mais sensível do íntimo e puxam para a superfície uma certa dor, mágoa ou solidão, uma de cada vez ou todas em simultâneo... por vezes é este o efeito numa alma...
Mas hoje, estranhamente, recordei aqueles dias simples de verão, quando mais criança, despreocupados e ternos, no campo... acudiram-me à memória as leiras, pequeninas, separadas por muros de vinhas, semeadas de batatas, de milho, de trigo, de cevada, de erva tenra orvalhada, a luzir ao sol, pronta a cortar e ajuntar em molhos...
Brincadeiras, correrias, gritos de prazer, cachos de uvas róseas, amoras negras a colorir os dedos e as bocas, maçãs silvestres colhidas directamente da árvore, suculentas e ácidas, devoradas com prazer e apetite...
E no final, depois do trabalho feito e do cansaço começar a despontar, o ponto alto do dia... o regresso à casa, montados quais reis e senhores no monte da erva, lá bem no alto, exercício de equilíbrio e deleite para a vista, que tudo abarcava em ânsia de tudo ver, o passo lento da junta de bois, em esforço bruto, o chiar agudo das rodas de madeira, seculares e firmes...
Uma ligeira crise de nostalgia que tanto prazer me deu, fiquei com saudades desses dias simples e despreocupados, em que se podia andar descalço na erva, rebolar e dormir, sentindo a força da terra em nosso redor, o canto breve dos pássaros, as cigarras sempre em festa, grilos e gafanhotos, o marulhar do rio, beleza no seu estado mais puro, que só agora faz sentido, só agora é realmente apreciada, porque perdida, porque longínqua... a paz...
E estava ainda imersa em toda esta imagem, toda esta saudade e recordação quando me palpitou na memória uma outra referência, uma abordagem poética a todo este verde que hoje me encheu a alma de memórias calorosas, lembrei-me dos verdes campos de Camões, uma daquelas poucas poesias que quase todos sabem de cor, quanto mais não seja pela interpretação que dela tantos fizeram... aqui a deixo, com um sorriso, para quem quiser ler...

Verdes são os campos / Luís de Camões

Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.

Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.

Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.

2005/01/12


Learn To Be Lonely - The Phantom of The Opera BSO

Child of the wilderness
Born into emptiness
Learn to be lonely
Learn to find your way in darkness
Who will be there for You
Comfort and care for You
Learn to be lonely
Learn to be Your one companion
Ever dream out in the world
There are arms to hold You
You've always known
Your heart was on it's own
So laugh in Your loneliness
Child of the wilderness
Learn to be lonely
Learn how to love
Life that is lived alone
Learn to be lonely
Life can be lived
Life can be loved
Alone


2005/01/10

Com o pensamento algures...

Soltei o pensamento, abri o coração...
tentei encontrar respostas
para mil e uma perguntas que me assolaram...
Perdi-me nos trilhos da minha alma,
encontrei-me nas dúvidas que me assaltavam...
Permaneci sem respostas,
De olhos fechados, esperando...
Esperando uma luz, um sinal, um aviso,
Um indício de caminho...
Li entrelinhas, interpretei dizeres e intenções...
Sofri... cativa de um sonho por mim criado...
E por alguém alimentado...
Até que um vislumbre último de mágoa e cansaço
Me libertou... depois de longo cativeiro...
Não direi adeus... porque não gosto de adeus...
Mas um até um dia terá de ser,
Na esperança vaga de que as dúvidas se dissipem de vez...
E a inconstância e a indecisão cessem,
Retomando um caminho definido e concreto,
Onde os sentimentos terão o seu lugar...
Amor ou Amizade, mas simples e honestos,
Como uma branca folha de papel...


2005/01/08


Estranhezas e fúrias...

Esta foi na verdade uma semana bizarra... cinco dias, cinco, de uma intensidade brutal, uma inquietude que me atravessou de cima a baixo, sem esmorecer, uma ansiedade, uma angústia, quase adivinhando um algo, um acontecimento, qualquer coisa sem nexo e não-palpável... um "pressentimento" diriam alguns, um insight, uma tolice, consciência pura e dura de que algo ainda irá acontecer, porque nada acontece por acaso e é neste momentos que consolidamos em nós, bem lá no âmago do ser, que decisões devem ser tomadas, rumos traçados, objectivos escolhidos e reformulados, removido aquilo que deixou de ser bom para nós e valorizado aquilo que nos eleva e valoriza... Um esforço tremendo para manter a atenção à realidade e à vida, uma energia vital em circulação pelas veias e pela mente que me dava vontade de exterminar estupidez, arrasar montanhas, demolir muros à força de maço, arar terras com as mãos, soltar um grito lancinante ao vento, semear e criar vida no meu seio, num sentimento descontrolado e fenomenal equivalente a uma força da Natureza, à fúria dos elementos, a uma tempestade solar...
E o melhor de tudo é que ainda não passou, apesar do turbilhão interior, o horizonte aparece claro e límpido como os olhos de um infante inocente... persiste uma sensação extraordinária de paz, de caminho escolhido, para o bem e para o mal, mas próprio, único e intransmissivel, como esta energia que me move agora... e que faz de mim ser...


2005/01/07

Descrição...

Saia preta, risca de giz,
ligeiramente abaixo do joelho,
camisola justinha preta,
de gola alta,
casaco vermelho escuro,
de lã, com efeitos tricotados....
sapatinhos pretos,
de verniz,
corrente de largos elos,
cruz rugosa, de prata,
no pescoço,
casacão preto, comprido,
pelo tornozelo,
gola felpuda, como é uso,
anel em prata,
gema vermelho sangue,
rubro, vivo...
cabelo curto, rebelde,
pontas soltas ao vento,
cheiroso,
perfume quente,
envolvente,
duas alianças,
negras, de hematite,
na mão esquerda...
como foi, como é,
como será...

2005/01/06

Passagens...

Olhou em frente, respirou fundo, arrebanhou mais alguns grãos de coragem e iniciou a passagem... Um quase deserto em redor... só carros e árvores, uma ponte, nem uma alma à vista... pode ser bom, pode ser mau... nunca se sabe quando um susto pode acontecer...
Continuou sempre em frente, resoluta, já não havia como voltar para trás ou escolher outro caminho, já não havia tempo... Lançava olhares inquietos em redor, sentidos apurados em relação ao todo, ouvido afinado e a reagir ao mínimo ruído estranho... sobressaltou-se com a porta de um carro a fechar-se e acelerou o passo, ouviiu alguém atravessar a passagem, algures atrás dela... continuou sem parar, uma espreitadela rápida pelo canto do olho, aproveitando a visão periférica... um ligeiro alívio, apenas mais alguém a fazer a travessia, nada de especial...
Alívio final, passagem feita... endireitou as costas, aliviada de um peso... mais um dia sem notícia, em segurança, amanhã logo se verá, uma outra cruzada para ultrapassar... um percurso incerto pelo meio das árvores, dos carros estacionados, sob a ponte mergulhada na escuridão, numa quase madrugada fria e deserta de gente e, de preferencia, sem encontros duvidosos...
Mergulhou nos seus pensamentos, ad-mirando as árvores do outro lado da rua, troncos fortes, ramos despidos, erguidos ao céu numa prece suplicante, à luz de uma qualquer manhã de Inverno...

2005/01/05



2005/01/04

Probabilidades...

As probabilidades são uma coisa engraçada realmente... senão vejamos... quais são as probabilidades de se gostar de alguém que não gosta de nós da mesma forma? Imensas! Quais são as probabilidades de o inverso acontecer? Imensas também... Quais as probabilidades de nos cruzarmos com a nossa alma gémea? Escassas... Mas também pode ocorrer a probabilidade de nos cruzarmos com essa mesma alma gémea e ela já ter uma realidade presente... Quais são as probabilidades de uma amizade crescer para algo mais? Inúmeras... Maiores ou menores, contáveis ou incontáveis, as probabilidades acontecem na vida... seja em relação a sentimentos, seja em relação a pequenos pormenores, daqueles que raramente prestamos atenção...
Hoje de manhã aconteceu-me uma dessas conjunções raras de probabilidades e em relação a uma ninharia.... mas é claro que me deu que pensar e até serviu de tema para este post... de facto, qual seria a probabilidade de, duas pessoas, entrarem no mesmo comboio, à mesma hora, ficarem sentadas praticamente à frente uma da outra e de repente uma delas reparar que traziam ambas um anel idêntico, que pela sua forma e natureza é extremamente incomum? Pois aconteceu-me hoje isso... e a improbabilidade de tal acontecer foi simplesmente reduzida a estilhas...

2005/01/03


Eversleeping - Xandria

Once I travelled 7 seas to find my love
And once I sang 700 songs
Well, maybe I still have to walk 7000 miles
Until I find the one that I belong

Once I crossed 7 rivers to find my love
And once, for 7 years, I forgot my name
Well, if I have to I will die 7 deaths just to lie
In the arms of my eversleeping aim

I will rest my head side by side
To the one that stays in the night
I will lose my breath in my last words of sorrow
And whatever comes will come soon
Dying I will pray to the moon
That there once will be a better tomorrow

I dreamt last night that he came to me
He said: "My love, why do you cry?"
For now it won't be be long any more


2005/01/01

Receita de Ano Novo - Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.