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2007/03/22

Pequeno poema / Sebastião da Gama

Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.

Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.

As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...

Pra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe...


Parabéns para mim...

2007/03/15


cansado / Álvaro de Campos

Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.

2007/03/14

Reflexões...

Estou cansada. Ponto final parágrafo.
E são cada vez mais as coisas que, ao final do dia, gostaria de conseguir esquecer ou, pelo menos, desligar para conseguir uma noite descansada de sono. As últimas semanas não foram nada famosas e a tendência será para piorar, para acumular situações e cenas desnecessárias e mal-resolvidas. Tenho quase a certeza que o ambiente aqui onde trabalho vai continuar a pesar durante mais uns tempos e não gosto nada dessa perspectiva. Lá terei de lidar com isso a seu tempo, apesar de não saber bem onde isto irá parar e que consequências poderá ter. Terei de continuar em frente, com cuidado para não tropeçar nos obstáculos que vão continuar a surgir por aí. Por agora, repito... estou cansada. Ponto final parágrafo.

2007/03/13



(Longa) Citação a propos...

"
De que é que Depende a Felicidade? (Blog do Citador)

Ser feliz. De vez em quando, discretamente, pudicamente, ergue-se em ti ainda esta velha aspiração. Mas já não são horas de o seres, seriam só de o teres sido. De que é que depende a felicidade? O que falhou avulta quando enfrentamos a pergunta. Mas só se não tivéssemos falhado saberíamos se foi isso que falhou. Sei o que falhou mas não sei se o que falhou foi isso. A felicidade ou infelicidade têm a sua escala de grandeza. Tenho os meus motivos grandes mas os pequenos absorvem-nos. Problemas do destino, da verdade, do absoluto que desse a pacificação interior. Mas eles apagam-se ou esquecem com uma simples dor de dentes. Assim eles me avultam apenas quando essa dor se apazigua. Que dores menores me pontuaram a vida toda? Do balanço geral há o que somos para os outros e o que somos para nós. Ser feliz. Possivelmente o problema está num dente cariado. Sei o que falhou.

Não sei o que falharia ainda, se o mais não tivesse falhado. Que falsificação de nós inventamos para os outros que no-la inventaram? Ter grandeza no que se sofre para ao menos nos admirarem o sofrimento. O que sofri entremeado ao público sofrimento não tem grandeza nenhuma. Precisava bem de saber se a minha verdade definitiva não está aí. Ou ao menos a condição de tudo o mais. Para me negar radicalmente na obscuridade de mim. Para saber definitivamente o que vou entregar à morte. Porque pode ser só aquilo de que a morte tomará posse, sem restar nada de que tomem posse os outros.

Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 4' "

2007/03/09


Mote...

Há dias, horas, momentos e sentimentos...

2007/03/07


É urgente / Eugénio de Andrade

É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.


Note to self: acho que já postei isto antes, algures no meio dos largos milhares de letras que compõem este blog.... mas não deixa de ser suficientemente belo para ser recordado e relido...

2007/03/03



Eclipse da Lua...

Não é um acontecimento novo, nem assim tão raro de observar... mas em todo o caso, não deixa de ser algo bonito de se ver... momentos de penumbra, a que se sucede uma luminosidade acobreada...