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2005/03/31

Cenário II ou Cenário Desejado...

Fugir rapidamente do trabalho, aproveitar os últimos e melhores raios de sol de um dia verdadeiramente azul e radioso... passar rapidamente pela lojinha e comprar um saquinho de biscoitinhos... partir em direcção a um jardim à beira-rio...
Seleccionar um local à sombra de uma dessas árvores frondosas e agora repletas de rebentos verde-esperança, folhas mínimas, promessas do que hão-de ser... assentar arraiais na relva, ainda com aroma de recém-cortada, verde-terra, verde-vida...
Observar com um sorriso os miúdos a jogar à bola e à apanhada, a rebolar na erva... os pares de namorados, passeando abraçados e rindo... casais e individuais... calmos e apressados... manifestações de vidas, de histórias, de realidades...
Abrir calmamente o livro, actual companheiro de viagem, retomar calmamente a leitura, mergulhando nas suas páginas e no seu enredo... acompanhar com um biscoito, trincado lentamente, migalha a migalha, degustado como se fosse o último, com gosto, com prazer... deixando correr o tempo, solto e infatigável, até perto do anoitecer...
E quando esse momento chegar, arrumar o livro e as pequenas tentações e encetar o regresso a a casa, correndo o risco eventual de, no caminho sobre a relva, ter de escapar em grande velocidade à perseguição incansável dos aspersores de relva que começaram a funcionar, salpicando quem passa com gotas brilhantes de água fresca...

2005/03/30

Cenário I ou Cenário Possível...

Sair do trabalho, ao final do dia, rumo a uma esplanada... escolher uma mesa num cantinho sossegado sob as ramagens verdes e murmurantes das árvores... permanecer ali, ignorando o bulício da cidade em redor, gozando um momento de paz, eventualmente acompanhada de um bom livro e de um ice tea geladinho bebericado por uma palhinha... prevê-se auscultação acidental de alguns lapsos de conversa alheia, eventualmente a despertar alguns sorrisos... observação casual das pessoas presentes, construção de alguns "retratos" e "histórias"... e, finalmente, um regresso a casa sereno e pacífico, depois de recuperada a descontração necessária...

2005/03/29


Há dias assim...

Há dias de ouro,
há dias de prata...
Dias de esmeralda
e de rubi...
Há dias de chuva,
há dias de sol,
Dias de brumas
e nevoeiros...

Há dias de terra,
há dias de mar...
Dias de verde
e de azul...

E há dias assim...
Dias de esperança,
de felicidade intensa...
que nos invade,
submerge...
e nos faz implodir
em vagas sucessivas
e contagiantes...
de mil sorrisos
radiosos...
estampados no rosto,
reflectidos na alma...

2005/03/28

Derivações...

Sinto cá dentro uma falta...
Uma saudade...
Um estranho e intenso vazio...
Por isso, vou escrever
numa folha branca o teu nome...
Vou rasgá-la em mil pedaços
pequeninos
e soltá-los ao vento
Para que te encontrem...
Vou expô-la à chuva
até que a tinta se dilua
e escorra
até junto de ti...
Vou queimá-la na lareira
e deixar que o fumo
se eleve
e te procure...
Vou enterrá-la num vaso
duma roseira
para que quando floresça
o seu perfume te envolva...
Ficarei com a saudade
em mim...
Ficarei com a esperança
de ti...

2005/03/27



2005/03/26

Experiências depois da chuva...




2005/03/25

Soneto XLVIII / Pablo Neruda

Dos amantes dichosos hacen un solo pan,
una sola gota de luna en la hierba,
dejan andando dos sombras que se reúnen,
dejan un solo sol vacío en una cama.

De todas las verdades escogieron el día:
no se ataron con hilos sino con un aroma,
y no despedazaron la paz ni las palabras.
La dicha es una torre transparente.

El aire, el vino van con los dos amantes,
la noche les regala sus pétalos dichosos,
tienen derecho a todos los claveles.

Dos amantes dichosos no tienen fin ni muerte,
nacen y mueren muchas veces mientras viven,
tienen la eternidad de la naturaleza.

2005/03/24


Haja o que houver / Madredeus

Haja o que houver
eu estou aqui
Haja o que houver
espero por ti
Volta no vento
Ó meu amor
volta depressa
por favor
Há quanto tempo
já esqueci
Porque fiquei
Longe de ti
Cada momento
é pior
Volta no vento
Por favor

Eu sei, eu sei
Quem és para mim
Haja o que houver
espero por ti

2005/03/22


The Unicorn / Rainer Maria Rilke

The saintly hermit, midway through his prayers
stopped suddenly, and raised his eyes to witness
the unbelievable: for there before him stood
the legendary creature, startling white, that
had approached, soundlessly, pleading with his eyes.

The legs, so delicately shaped, balanced a
body wrought of finest ivory. And as
he moved, his coat shone like reflected moonlight.
High on his forehead rose the magic horn, the sign
of his uniqueness: a tower held upright
by his alert, yet gentle, timid gait.

The mouth of softest tints of rose and grey, when
opened slightly, revealed his gleaming teeth,
whiter than snow. The nostrils quivered faintly:
he sought to quench his thirst, to rest and find repose.
His eyes looked far beyond the saint's enclosure,
reflecting vistas and events long vanished,
and closed the circle of this ancient mystic legend.

22 / Ana / 31

Vinte e dois... sempre gostei deste número, talvez porque se lê, se vê, se observa, se sente sempre da mesma forma... dois e dois, 2 e 2, por mais voltas que se lhê dê, invertido, na diagonal, em espiral, será sempre 22, vinte e dois... um par, uma repetição, um duo...
22
22

Curiosamente o mesmo se passa com o meu nome... qualquer volta que lhe der terá sempre a mesma leitura...
A n a
n n n
a n A
Sempre igual, sempre meu... sempre Ana, sempre eu mesma...
E onde entra aqui o 31 do título? Simplesmente porque a partir de hoje, inicio o meu percurso sobre o trigésimo primeiro ano da minha existência...
Um dia bom para todos...

2005/03/21

Spring Time...

O calendário assinala o início da Primavera...
No meu caminho, as árvores, que ainda no final da outra semana mostravam ramos descarnados e nús, apresentam agora, em toda a superfície, uma leve poeira verde.... verde-jade, verde-esmeralda, verde-vida... uma intensa explosão de vida, de rebentos minúsculos, botões de folhas que hão-de ser, que cobrem os galhos de pequeninas jóias vivas...
Porque finalmente veio a chuva... uns borrifos tímidos, uma poalha indecisa, ansiosamente aguardada, uma neblina matinal, densa e compacta... não será, com certeza, o final da seca que atravessamos, dura e inclemente... mas poderá representar um sinal de esperança de que melhores dias virão...

2005/03/19

The Miracle Of Love / Eurythmics

How many sorrows
Do you try to hide
In a world of illusion
That's covering your mind?
I'll show you something good
Oh I'll show you something good.
When you open your mind
You'll discover the sign
That there's something
You're longing to find...

The miracle of love
Will take away your pain
When the miracle of love
Comes your way again.

Cruel is the night
That covers up your fears.
Tender is the one
That wipes away your tears.
There must be a bitter breeze
To make you sting so viciously -
They say the greatest coward
Can hurt the most ferociously.
But I'll show you something good.
Oh I'll show you something good.
If you open your heart
You can make a new start
When your crumbling world falls apart.

2005/03/18

Vento...

Girou sobre si mesma, olhando em redor... sob um céu azul brilhante, conseguia ver claramente a linha do horizonte, distante... soprava uma brisa suave, que a envolvia ternamente, como num abraço... sentiu o vento brincar por entre os cabelos longos, desalinhando-os em ondulações leves, rodopiando em volutas, erguendo-os em direcção ao Sol... uma viragem súbita de direcção da aragem que corria, cobriu-lhe a visão com a chuva doce dos seus próprios cabelos... sorriu, num assomo de serenidade absoluta, emoldurado pelo silêncio... colocou-se contra o vento, olhou novamente a paisagem e apontou para o fio do horizonte, lá longe... abriu as mãos e esticou os dedos, acariciando a brisa e deixando-se acariciar por ela... fechou os olhos e limitou-se a sentir, saboreando o momento... a brisa percorria-a, num jogo de toca e foge... sentia os cabelos voar, completamente soltos... sorriu novamente, perante este vislumbre de liberdade... e foi com um sorriso nos lábios doces, que semicerrou os olhos dourados, abriu as negras asas e voou... acompanhada pelo vento...

2005/03/17

Esta é a Cidade / António Gedeão

Esta é a Cidade, e é bela.
Pela ocular da janela
foco o sémen da rua.
Um formigueiro se agita,
se esgueira, freme, crepita,
ziguezagueia e flutua.

Freme como a sede bebe
numa avidez de garganta,
como um cavalo se espanta
ou como um ventre concebe.

Treme e freme, freme e treme,
friorento voo de libélula
sobre o charco imundo e estreme.
Barco de incógnito leme
cada homem, cada célula.
É como um tecido orgânico
que não seca nem coagula,
que a si mesmo se estimula
e vai, num medido pânico.

Aperfeiçoo a focagem.
Olho imagem por imagem
numa comoção crescente.
Enchem-se-me os olhos de água.
Tanto sonho! Tanta mágoa!
Tanta coisa! Tanta gente!
São automóveis, lambretas,
motos, vespas, bicicletas,
carros, carrinhos, carretas,
e gente, sempre mais gente,
gente, gente, gente, gente,
num tumulto permanente
que não cansa nem descança,
um rio que no mar se lança
em caudalosa corrente.

Tanto sonho! Tanta esperança!
Tanta mágoa! Tanta gente!

2005/03/15


Os abrunheiros e as ameixeiras já estão em flor... pequenos botões rosa pálido, petalas translúcidas através das quais brilha o sol da manhã, emprestando-lhes um brilho etéreo e efémero... em breve soltar-se-ão dos galhos nús, acompanhadas pela brisa suave, numa chuva delicada e doce de pequenos círculos pálidos sobre a relva verde-esmeralda... depois virão as folhas, rebentos rubros e escarlates, desdobrando-se como leques ao sol, refugio das aves e esconderijo dos frutos púrpura, quase negros, que irão crescer...

2005/03/14

Yolanda / Pablo Milanes

Esto no puede ser no más que una canción,
quisiera fuera una declaración de amor,
romántica sin reparar en formas tales
que pongan freno a lo que siento ahora a raudales.
Te aaamo, te amo, eternamente te amo.

Si me faltaras no voy a morirme,
si he de morir quiero que sea contigo,
mi soledad se siente acompañada
por eso sé que a veces necesito
tu mano, tu mano, eternamente tu mano.

Cuando te vi sabía que era cierto
este temor de hallarme descubierto,
tú me desnudas con siete razones,
me abres el pecho siempre que me colmas
de amores, de amores, eternamente de amores.

Si alguna vez me siento derrotado,
renuncio a ver el sol cada mañana
rezando el credo que me has enseñado
miro tu cara y digo en la ventana
Yolanda, Yolanda, eternamente Yolanda.
eternamente Yolanda... eternamente Yolanda.

2005/03/13


Nota: Como já vai sendo costume, se melhor quiserem visualizar este postal, basta um click sobre ele...

2005/03/12

12:42 - Informação ao visitante incauto: Parece existir algures um "bug" que impede a concretização de comentários e informa que não é possivel encontrar o blog... Aparentemente este assunto estará a ser resolvido, mas até lá... hold your comments... ;o)
23:09 - Pelos vistos os meninos da Blogger trabalham depressa (cof cof cof) e resolveram já o assunto... venham a mim os comentários, leia-se, piropos... :o))))

2005/03/11

Um...

Em passo seguro e ritmado,
pela calçada, pelo asfalto,
cruzo sombras e rostos,
meros corpos,
adivinho sentimentos,
sensações, pensamentos...
construo realidades,
invento...
recrio...
ser, ter e haver,
estar e querer,
desejar...
Vertigem e queda...
mergulho em mim,
espelho do outro,
reflexo imperfeito...
de sentimentos,
sensações, pensamentos...
percepções mudas
de pares e ímpares,
de multiplos e unos...
que somos.

2005/03/10

Se eu fosse um dia o teu olhar / Pedro Abrunhosa

Frio
O mar
Por entre o corpo
Fraco de lutar
Quente,
O chão
Onde te estendo
Onde te levo a razão.
Longa a noite
E só o sol
Quebra o silêncio,
Madrugada de cristal.
Leve, lento, nu, fiel
E este vento
Que te navega na pele.
Pede-me a paz
Dou-te o mundo
Louco, livre assim sou eu
(Um pouco +...)
Solta-te a voz lá do fundo,
Grita, mostra-me a cor do céu.

Se eu fosse um dia o teu olhar,
E tu as minhas mãos também,
se eu fosse um dia o respirar
E tu perfume de ninguém.
Se eu fosse um dia o teu olhar,
E tu as minhas mãos também,
se eu fosse um dia o respirar
E tu perfume de ninguém.

Sangue,
Ardente,
Fermenta e torna aos
Dedos de papel.
Luz,
Dormente,
Suavemente pinta o teu rosto a
pincel.
Largo a espera,
E sigo o sul,
Perco a quimera
Meu anjo azul.
Fica, forte, sê amada,
Quero que saibas
Que ainda não te disse nada.
Pede-me a paz
Dou-te o mundo
Louco, livre assim sou eu
(Um pouco +...)
Solta-te a voz lá do fundo,
Grita, mostra-me a cor do céu.


2005/03/09


Imagens...

Eram 8h45, algures em Lisboa, à espera que o sinal passasse a verde para atravessar...
O Sol, já lá no alto, círculo perfeito de contornos bem definidos, brilhava intenso através da nebulosidade de um céu semi-encoberto, meio cinza, meio branco, uma mistura confusa de nuvens e poluição...
Sobrepondo-se a esta visão, uma álea de árvores, dispostas quais guerreiros perfilados, uma após outra, erguendo ramos descarnados e desfolhados ao céu, em busca do calor que há-de vir...
Tomando este conjunto, envolvo nesta luz difusa... coloquei-o aqui, recortei-o e obtive a fotografia que não tive ocasião de tirar...

2005/03/08

Silencio...

Oh pahhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!
Mexam-se, falem...
Digam qualquer coisa
Com sentido, sem sentido,
Desconexas, lógicas,
Com contexto, sem texto,
Mas digam, falem,
Escrevam, manifestem-se
Mexam-se!!!
Combatam o silencio,
Reúnam as armas...
Uma voz, um som,
Uma palavra, uma letra,
A escrita, a musica,
Ruído de fundo.
Reajam, estrebuchem,
Batam os pés, batam palmas,
Gritem, conversem,
Murmurem, soletrem...
Mas não deixem o silencio instalar-se!

Porque demasiado silêncio
Poderá ser fatal...

2005/03/07


Le Petit Prince

A verdade é que tenho este belo capítulo guardado em draft há muito, muito tempo... nunca encontrei porém, o momento certo para aqui o deixar... até ontem, até hoje... porque há coisas que não se devem deixar de fazer, porque há coisas qeu não se devem deixar de dizer, porque há coisas que não se devem deixar de sentir... são somente dois excertos daquele que considero o mais belo dos capítulos deste livrinho e que espelham aquilo que muitos de nós precisamos, de criar laços, de cativar... de acreditar que somos a raposa que deseja ser rosa... ou mesmo de acreditar que somos a rosa...

"- Non, dit le petit prince. Je cherche des amis. Qu'est-ce que signifie "apprivoiser" ?
- C'est une chose trop oubliée, dit le renard. Ça signifie "créer des liens..."
- Créer des liens ?
- Bien sûr, dit le renard. Tu n'es encore pour moi qu'un petit garçon tout semblable à cent mille petits garçons. Et je n'ai pas besoin de toi. Et tu n'as pas besoin de moi non plus. Je ne suis pour toi qu'un renard semblable à cent mille renards. Mais, si tu m'apprivoises, nous aurons besoin l'un de l'autre. Tu seras pour moi unique au monde. Je serai pour toi unique au monde...
(...)
Et il revint vers le renard:
- Adieu, dit-il...
- Adieu, dit le renard. Voici mon secret. Il est très simple: on ne voit bien qu'avec le cœur. L'essentiel est invisible pour les yeux.
- L'essentiel est invisible pour les yeux, répéta le petit prince, afin de se souvenir.
- C'est le temps que tu as perdu pour ta rose qui fait ta rose si importante.
- C'est le temps que j'ai perdu pour ma rose... fit le petit prince, afin de se souvenir.
- Les hommes ont oublié cette vérité, dit le renard. Mais tu ne dois pas l'oublier. Tu deviens responsable pour toujours de ce que tu as apprivoisé. Tu es responsable de ta rose...
- Je suis responsable de ma rose... répéta le petit prince, afin de se souvenir."

2005/03/06

Uma receita feliz (parte 2)...

Um domingo pacífico, com uma saída para comprinhas de última hora de manhã, um passeiozinho de final de tarde e ao almocinho uma taça do doce de que falei ontem aqui...
Nhammmmmmmmmmmmm... que bom que estava, fresquinho e doce, mas sem ser enjoativo... simples e gostoso... capaz de colorir um sorriso em qualquer rosto... e sim... eu sou uma mecinha ligeiramente gulosa... se é que isso existe... hehehehe

2005/03/05


Uma receita feliz...

Para quem gosta de um mimo doce, lembrei-me de depositar hoje aqui uma breve indicação de algo que ajudei a fazer hoje de tarde... na verdade não tem nada de extraordinário, nem de transcendental na sua confecção, se bem que adicionar-lhe um pouco de amor e carinho o tornará sempre melhor...
Basta reunir morangos, natas e suspiros... morangos partidos em pedacinhos pequeninos, natas batidas em chantilly e suspiros de açúcar desfeitos em mil doces fragmentos... sim, sim, suspiros de açúcar, porque os outros também se podem adicionar, não tendo porém o mesmo sabor, o mesmo travo doce...
Tratados os diferentes elementos de acordo com o indicado, resta juntá-los num fraterno abraço, depositando-os numa taça e levando-os assim, em terna harmonia, ao frio... simples, não é? Doce, sem qualquer dúvida, um perigo para a linha irão pensar as fundamentalistas do peso, mas que importa se nos der prazer?
É algo que, na sua simplicidade, me recorda de tantas outras coisas simples e boas que a vida nos traz, tanto carinho, tanto amor, tanta amizade... tantos sorrisos...

2005/03/04

O Primeiro Dia / Sérgio Godinho

A principio é simples, anda-se sozinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se bem no silêncio e no burburinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado, que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que se leva a peito
bebe-se, come-se e alguém nos diz: bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Depois vêm cansaços e o corpo fraqueja
olha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso, por curto que seja
apagam-se dúvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar, sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E entretanto o tempo fez cinza da brasa
e outra maré cheia virá da maré vazia
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida.

2005/03/03

Há palavras que nos beijam / Alexandre O'Neill

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

2005/03/02


Silence...

I cannot stand this silence anymore...
Not knowing, Not seeing...
Not touching, Not feeling...
Only silence...
Only nothing...
Absolute void of everything...
That is hurting me...
That is driving me insane...
Where are you?
Tell me something...
Don't leave me alone
In this stone cold place...
Come to me...
Cover me with your wings...
Protect me of the silence...
Grant me your love...
Share your hope...
Touch my heart...
Let me know you're there...
Give me your smile...

Take this silence away from me...
Don't let it destroy my faith...

2005/03/01


Transidos... 2

Eu ontem falei em Frio não foi? Disse que estava muito mau não foi? Pois agora considerem tudo o que disse ontem e dupliquem-no, tripliquem-no, sei lá... elevem-no à potência dez ou ao infinito... porque de acordo com os gurus da meteorologia, este será provavelmente o mais frio dia do ano... Qualquer criaturinha ficaria com a alma perra se ao chegar ao trabalho o termometro lhe indicasse uns belos zero graus... depois de enfrentar sabe-se lá quantos menos no percurso...
Mas há pequenas coisas que apesar de tudo nos conseguem fazer sorrir... uma poça de água que se transformou em gelo... os restos dos ramos das árvores podadas, que ficaram em cima da relva do jardim, e que aparecem decorados com pequenos pingentes de gelo brilhante como gemas preciosas e efémeras, que o amanhecer revela e que o decorrer do dia irá fazer desaparecer...
Os comentários das pessoas que assisitiram a esses pequenos espectáculos, a excitação quase infantil manifestada, são essas pequeninas coisas que tornam este Frio algo verdadeiramente suportável...