<$BlogRSDUrl$>

2005/02/28

Transidos...

O Frio... voltou cavalgando o vento, numa investida gélida, que atravessa a alma e congela até o mínimo pensamento... Observa-se os seres na rua tentando resistir-lhe, agarrando com força os agasalhos, mas curvando-se perante o seu poder, quais Atlas carregando o peso do mundo nos ombros... também eu o combati, protegida por uma casca de burel, qual peregrino medieval atravessando uma floresta densa ou uma planície inóspita em pleno Inverno, até atingir o seu destino, rosto coberto por profundo capucho, ocultando pensamentos e observações...
Apesar de agreste e violento, este é, todavia, um Frio suportável... outros há, que mais profundos estragos fazem, de forma talvez mais sub-repticia... lembro-me do silêncio, por exemplo... sinuoso e invisivel, que se insinua entre os seres, sem notícia, sem razão... é esse frio silencioso que temo por vezes, mesmo sabendo que a melhor protecção contra tal é a amizade, é o amor...
Já no aconchego do escritório, volto a observar os seres que passam, perseguidos implacavelmente pelo Frio... arrepio-me e pergunto-me que outros frios trarão com eles, criaturas fortes e simultaneamente frágeis, que povoam este espaço e este tempo...

2005/02/27

Olhando o mar, sonho sem ter de quê / Fernando Pessoa

Olhando o mar, sonho sem ter de quê.
Nada no mar, salvo o ser mar, se vê.
Mas de se nada ver quanto a alma sonha!
De que me servem a verdade e a fé?

Ver claro! Quantos, que fatais erramos,
Em ruas ou em estradas ou sob ramos,
Temos esta certeza e sempre e em tudo
Sonhamos e sonhamos e sonhamos.

As árvores longínquas da floresta
Parecem, por longínquas, 'star em festa.
Quanto acontece porque se não vê!
Mas do que há pouco ou não há o mesmo resta.

Se tive amores? Já não sei se os tive.
Quem ontem fui já hoje em mim não vive.
Bebe, que tudo é líquido e embriaga,
E a vida morre enquanto o ser revive.

Colhes rosas? Que colhes, se hão-de ser
Motivos coloridos de morrer?
Mas colhe rosas. Porque não colhê-las
Se te agrada e tudo é deixar de o haver?

2005/02/26



2005/02/25

Invictus / William Ernest Henley

Out of the night that covers me,
Black as the pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud:
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbow'd.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds and shall find me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.

2005/02/24

Esta noite...

Esta noite ao deitar-me, só me apetecia chorar... desfazer-me em rios de pranto silencioso, libertando assim alguma da angustia que me assombrava... Depois... lembrei-me de tudo aquilo que era realmente importante... um sorriso, um abraço, um pensamento, uma memória, um beijo, um olhar, um riso sincero e franco, uma sensação, uma conversa, um raio de sol por entre as nuvens, um céu azul, uma lua cheia, uma folha castanha a desprender-se da árvore no Outono, uma flor silvestre, uma gota de chuva no rosto, um campo de trigo ou girassóis ondulando ao vento, um pássaro a cantar, uma árvore frondosa, um floco de neve, um som, uma música, uma composição, uma leitura, um poema, um cheiro, um aroma, um sabor, um saber, uma certeza, uma vontade... todo o carinho e amor que podemos suportar, dar e receber... e finalmente, adormeci ao som da chuva que caia lá fora....

2005/02/22

Cade La Neve / Ada Negri

Sui campi e su le strade,
silenziosa e lieve,
volteggiando, la neve
cade.

Danza la falda bianca
ne l'ampio ciel scherzosa,
poi sul terren si posa,
stanca.

In mille immote forme,
sui tetti e sui camini,
sui cippi e sui giardini,
dorme.

Tutto d'intorno è pace;
chiuso in oblìo profondo,
indifferente il mondo
tace.

2005/02/21


Desanuviando com os "especiais"...

Hoje é segunda feira, está frio, está a ameaçar chover, ou quando muito, gelar, o tema que anda no ar para quase toda a gente são os resultados eleitorais... mas para mim hoje, o meu tema principal são os livros que tenho para ler...
Na sexta-feira passada, lá juntei mais duas obras à minha colecção de especiais... chamo-lhes "especiais" porque respeitam uma premissa específica que me fascina, premissa essa que diz respeito essencialmente ao tema ou a um aspecto particular da obra e que passo a explicar... descobri há algum tempo, que tenho um especial fascínio ou interesse por livros em que o tema principal do enredo ou a peça fundamental de desenvolvimento da acção são, precisamente, os livros... em resumo, gosto de livros sobre livros... e a verdade é que cheguei à conclusão que não são assim tão poucos aqueles que nos apresentam o livro como um protagonista fundamental da história...
De momento, na minha colecção pessoal já identifiquei os seguintes:
- O Nome da Rosa, Umberto Eco
- O Clube Dumas, Arturo Pérez-Reverte
- O Último Cabalista de Lisboa, Richard Zimmler
- A Sombra do Vento, Carlos Ruiz Zafon
Na sexta, juntei a esta lista mais dois:
- A Regra de Quatro, Ian Caldwell e Dustin Thomason
- O Códice Secreto, Lev Grossman
Mas como "rato-leitor" que sou, quero mais... muitos mais... por isso, se alguém se recordar de algum título, deixem recado, não se acanhem...

2005/02/20

Encontros...

Ontem foi um daqueles dias super-preenchidos em que se parece não ter tempo para nada e se acaba por fazer quase tudo. Como qualquer "menina prendada", as compras e as tarefas domésticas ocuparam-me uma boa parte da manhã e da tarde, quase me deixando sem vontade para algo a que me tinha proposto, ou seja, uma presença num jantar organizado pelo chat onde vou parando... mas lá fui até porque sentia que andava a precisar de refrescar as ideias, de estar com pessoas, rir um bocado... e com esta brincadeira toda, só cheguei a casa eram 3h30, cansada, a sentir a cabeça ligeiramente oca do ruído e com um cheiro insuportavel a tabaco entranhado na roupa.
Hoje, lá fiz o esforço de me levantar cedinho, porque há coisas que devem ser feitas, nomeadamente, exercer o dever cívico de voto e reflectir sobre o evento de ontem... ora em resumo, vamos lá a ver... serviu para conversar um bocado sobre banalidades, dar umas boas gargalhadas, e sobretudo, observar... acho que na realidade é esse o meu passatempo neste tipo de reuniões, porque, visto ser pessoa de poucas falas, acabo por me colocar um pouco de fora, excepto quando integrada em grupos pequenos onde me sinta à-vontade...
Mas nestes casos, admito que a curiosidade fala mais alto, o desafio de associar os nicks e as teclas, com a pessoa real e concreta, reforçando ou revendo primeiras impressões, num exercício de observação pura... sendo que, confesso, são raros os caso em que tenho necessidade de rever opiniões sobre algo ou alguém... mas, em última análise, foi divertido, ou como disse a alguém, "isto tem sempre muita piada..."
Oh lá se tem!!! Hehehehehehehehehe... como diria o poeta, "eles não sabem, nem sonham..." e por um lado, ainda bem que assim é, porque é um facto que há laços que não tenho mesmo qualquer interesse em estabelecer... e é mesmo assim a minha opinião, nua e crua, que na verdade, é só minha e vale o que vale... hehehehehe...

2005/02/18

I Love You / Sarah McLachlan

I have a smile
stretched from ear to ear
to see you walking down the road

we meet at the lights
I stare for a while
the world around disappears

just you and me
on this island of hope
a breath between us could be miles

let me surround you
my sea to your shore
let me be the calm you seek

oh and every time I'm close to you
there's too much I can't say
and you just walk away

and I forgot
to tell you
I love you
and the night's
too long
and cold here
without you
I grieve in my condition
for I cannot find the strength to say I need you so

oh and every time I'm close to you
there's too much I can't say
and you just walk away

and I forgot
to tell you
I love you
and the night's
too long
and cold here
without you

2005/02/17

Que giro!

Esta manhã, por causa da entrega de uns formulários, fiz um ligeiro desvio antes de vir para o trabalho... em princípio, não seria nada de extraordinário este percurso. Entreguei os benditos papelitos e regressei calmamente, muito calmamente, ao escritório, aproveitando para apreciar um pouco o sol da manhã e o belo céu azul e tentando ignorar o vento gélido que se fazia sentir e que me levou a adquirir mais uma echarpe para protecção do meu delicado ser... hehehehehe... convencidíssima, não é verdade?
Mas o que realmente tornou esta saída verdadeiramente curiosa foi, quando estava pacificamente à espera do autocarro, assistir à passagem de uma maquineta extraordinária, que nunca pensei vir a observar cá neste nosso pedacinho à beira-mar plantado... pois é meus amigos, eu vi um Segway passar por mim a toda a velocidade... realmente aquilo é mesmo uma coisinha engraçada, que, para além de proporcionar ao seu utilizador um meio de transporte eficaz, sem dúvida que consegue fazer virar muitas cabecitas... era vê-lo passar e as pessoas virarem-se para perceber que geringonça era aquela e ficarem a rir-se pelo inédito da situação... mas realmente aquilo é mesmo giro...

2005/02/16

Reflexões...

Por uma vez, ao menos por uma única vez, gostava que quando lhe dissesse "convidaram-me para isto" ou "apetece-me fazer aquilo", ela me conseguisse surpreender, simplesmente sugerindo que o fizesse porque estava a precisar e me iria fazer bem para arejar um bocado...
Por uma vez, por uma única vez, gostava de receber uma resposta dessas, que me fizesse sorrir de surpresa e me permitisse divertir sem pesos na consciência...
Por uma vez, por uma única vez, gostava de não ter de ouvir novamente o quanto ela está cansada, como as coisas estão complicadas em casa, como nunca se sabe que pessoas estão nesses encontros, como é que irás voltar e quem te irá trazer, como as ruas são perigosas à noite, tantos argumentos, que me remetem simplesmente de volta ao meu silêncio...
Por uma vez, somente por uma única vez, gostava de sentir que a minha vontade de distração não é egoísmo, mas simplesmente uma necessidade natural e legítima, raramente expressa em moldes excessivos, gostava de sentir confiança na minha responsabilidade, na minha sensatez, gostava de sentir que já não sou olhada como uma criança, ou como um adulto a meio-tempo...
Por uma vez, por uma única vez, gostava...

2005/02/15

Ontem, enquanto navegava por esses oceanos internéticos, dediquei-me novamente à audição de algo que tem, para mim, um eco especial no coração e na alma, porque na realidade a musica que se "ama" verdadeiramente, fica entranhada em nós, torna-se parte de nós e por isso mesmo, mais preciosa... assim sendo, aqui fica mais uma pequenina pérola, para ler, e depois ouvir, sentir e sonhar...

Only Time / Enya

Who can say where the road goes
Where the day flows, only time
And who can say if your love grows
As your heart chose, only time

Who can say why your heart sighs
As your love flies, only time
And who can say why your heart cries
When your love lies, only time

Who can say when the roads meet
That love might be in your heart
And who can say when the day sleeps
If the night keeps all your heart
Night keeps all your heart

Who can say if your love grows
As your heart chose- Only time
And who can say where the road goes
Where the day flows, only time

Who knows? Only time

2005/02/14


How do I love thee? - Elizabeth Barrett Browning

How do I love thee? Let me count the ways.
I love thee to the depth and breadth and height
My soul can reach, when feeling out of sight
For the ends of being and ideal grace.
I love thee to the level of every day's
Most quiet need, by sun and candle-light.
I love thee freely, as men strive for right.
I love thee purely, as they turn from praise.
I love thee with the passion put to use
In my old griefs, and with my childhood's faith.
I love thee with a love I seemed to lose
With my lost saints. I love thee with the breath,
Smiles, tears, of all my life; and, if God choose,
I shall but love thee better after death.

Como, apesar de todos os dias poderem ser dia de enamoramento, e, pela soma de A mais B e de B mais C, ou seja, por decidirem que este é dia de S. Valentim e que S. Valentim é patrono do namorados, ficou determinado ser este o Dia dos Namorados, achei que este poema que re-li algures poderia ser o ideal para aqui depositar... dedicando-o a todos... os que têm namorado, os que não têm namorado e mesmo aqueles que simplesmente se encontram enamorados pela própria vida... Um dia excelente...

2005/02/12

Reflexões...

Estranhamente, hoje não me ocorreu nada para depositar aqui... uma verdadeira e fatal "branca", um bloqueio, uma falta de inspiração, de tema, de ideia, de assunto... hummmmmmm... quase aposto que a culpa foi do IRS... organizar os papéis para preparar esse momento de verdadeira abnegação é uma tarefa realmente brutal... que nos consome as energias, quanto mais não seja por pensarmos se iremos ser abençoados ou condenados a um qualquer pagamento... com um discurso assim até parece que ando a nadar em euros como o Tio Patinhas... hehehehehehehehehehe... pelo menos está feito e preparado... Ainsi soit'il...

2005/02/11

Distracções...


Ontem, já no final da tardinha, e perfeitamente recuperada da minha enxaqueca, aproveitei para ler umas coisas no fórum por onde passo. Um dos posts tinha um link para um artigo que eu, logicamente, fui "cuscar". No final da leitura, um clic desajeitado no rato, abriu-me uma outra janela em vez de me remeter para a origem do link... eu sei que podia ter fechado logo aquilo e seguido caminho, mas admito que achei piada aquilo, um desses questionários meio doidos para determinar o QI... ok, ok... confesso que preenchi o questionário todinho, na secreta esperança de descobrir que sou um génio... hehehehehehehehehe
Parece que não sou... mas até achei engraçada a interpretação dos meus fabulásticos resultados... Pronto, pronto, talvez tenha ficado um bocadinho convencida com isto:

"Congratulations, Ana!Your IQ score is 129.

This number is based on a scientific formula that compares how many questions you answered correctly on the Classic IQ Test relative to others. Your Intellectual Type is Word Warrior. This means you have exceptional verbal skills. You can easily make sense of complex issues and take an unusually creative approach to solving problems. Your strengths also make you a visionary. Even without trying you're able to come up with lots of new and creative ideas. And that's just a small part of what we know about you from your test results."

2005/02/10

Log...

06h30: Despertar. Dor de cabeça. Correcção: pelos sintomas é Enxaqueca.
07h30: Comboio. Enxaqueca (nem deu para ler nada, ligeiro enjoo).
08h15: Pequeno almoço. Enxaqueca (tomei comprimido).
09h00: Trabalho. Enxaqueca (ainda!).
10h00: Intervalo. Enxaqueca (ligeiro alívio, o pescoço ainda está preso).
11h00: Novo intervalo. Enxaqueca (melhorias significativas da dor, algum peso na vista, alguma intolerância ao ruído).
12h30: Hora de almoço. Dor de cabeça (o pior parece ter passado).
13h30: Regresso ao trabalho. Dor de cabeça (ligeira, alguma sonolência).
14h30: Intervalo. Sucesso neste round (permanece a sonolência da medicação, uma noite de sono reparador resolve).

End Log...

2005/02/09

Haiku... (ou talvez não...)

> Uma folha em branco,
pensamento que não flui
como rio de tinta permanente...
<


2005/02/08



2005/02/07


The Wind That Shakes The Barley / Dead Can Dance

I sat within the valley green
I sat me with my true love.
My sad heart strove the two between
The old love and the new love.
The old for her the new
That made me think on Ireland dearly.
While the soft wind blew down the glade
and shook the golden barley.

T'was hard the woeful words to frame
To break the ties that bound us.
But harder still to bear the shame
of foreign chains around us.
And so I said the mountain glen
I'll meet at morning early.
And I'll join the bold united men
While soft winds shook the barley.

T'was sad I kissed away her tears
My fond arm round her flinging.
When a foe, man's shot burst on our ears
From out the wild woods ringing.
A bullet pierced my true love's side
In life's young spring so early.
And on my breast in blood she died
While soft winds shook the barley.

But blood for blood without remorse
I've ta'en at oulart hollow.
I've lain my true love's clay like corpse
Where I full soon must follow.
Around her grave I've wandered drear
Noon, night, and morning early.
With breaking heart when e'er I hear
The wind that shakes the barley.


2005/02/06

You Make Me Feel Brand New - Simply Red

My love
I'll never find the words, my love
To tell you how I feel, my love
Mere words could not explain
Precious love
You held my life within your hands
Created everything I am
Taught me how to live again

Only you
Cared when I needed a friend
Believed in me through thick and thin
This song is for you
Filled with gratitude and love

God bless you
You make me feel brand new
For God blessed me with you
You make me feel brand new
I sing this song 'cause you
Make me feel brand new

My love
Whenever I was insecure
You built me up and made me sure
You gave my pride back to me
Precious friend
With you I'll always have a friend
You're someone who I can depend
To walk a path that never ends

Without you
My life has no meaning or rhyme
Like notes to a song out of time
How can I repay
You for having faith in me


2005/02/05


Horizonte / Fernando Pessoa

O mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe, e o Sul sidério
'Splendia sobre sobre as naus da iniciação.

Linha severa da longínqua costa ---
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstracta linha.

O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esp'rança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte ---
Os beijos merecidos da Verdade.


2005/02/04

VerdeAzul...

Abriu os olhos... e sentiu a imersão no azul, claro e límpido, céu sem nuvens, mar sem ondas... simplesmente azul... ia jurar que conseguia ouvir a erva crescer em seu redor, tenra e fresca, em direcção ao céu e ao sol... o cheiro a terra invadiu-lhe as narinas, aroma primevo e primordial, recordação indelével na memória de outros tempos... a percepção de movimento desviou-lhe o olhar e observou os pássaros que ali (re)pousavam, debicando aqui e ali, ignorando a sua presença, como se fizesse parte da paisagem, do habitat... Como era possível ouvir o silêncio ali? Voltou a mergulhar no azul, numa vertigem doce de esquecimento de si e da realidade, pensando como seria bom que certos momentos nunca terminassem, numa volúpia de sentidos oscilando entre o verde e o azul, um quase adormecimento do ser, uma comunhão com a Natureza a que sabia sempre pertencer... O toque da realidade soou-lhe aos ouvidos... eram horas de voltar à rotina, recordavam-lhe uma reunião pseudo-fundamental... levantou-se, recolheu as suas coisas, retomou a aparência "corporativa"... riu-se com a quase hipocrisia da situação...
Olhou novamente em redor, despedindo-se do verde da relva, dos arbustos, das árvores, dos amigos pássaros... ergueu o olhar ao céu... tanto azul que apetecia guardar para sempre, como numa pintura de uma qualquer impressionista... Decidiu-se finalmente a abandonar este breve Eden... refugio de sonhos no meio do bulício, espaço selvagem no seio da cidade ruidosa, em movimento ininterrupto... dirigiu-se para a berma e ficou à espera do melhor momento para atravessar, escapando a um desses cavalos de ferro que teimavam em perseguir um qualquer incauto que ali tentasse chegar, àquela rotunda verdeazul, plantada no meio de uma praça qualquer, quase inacessivel aos conformados da vida...

2005/02/03

Tanto de meu estado me acho incerto / Luís de Camões

Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, juntamente choro e rio;
O mundo todo abarco e nada aperto.

É tudo quanto sinto um desconcerto;
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio,
Agora desvario, agora acerto.

Estando em terra, chego ao Céu voando;
Numa hora acho mil anos, e é de jeito
Que em mil anos não posso achar uma hora.

Se me pergunta alguém porque assim ando,
Respondo que não sei; porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora.


2005/02/02



2005/02/01

Restless...

Estou irrequieta, inquieta, tomada de uma ansiedade estranha, com uma vontade imensa de abrir a porta do escritório e fugir, correr, de me libertar com um grito... fiquei fechada quase uma manhã numa sala, numa daquelas reuniões inconsequentes, onde se lançam muitas opiniões e quase nada se concretiza de facto, consciente da sua quase inutilidade, atormentada pelo calor insuportável do ar condiconado e por uma sensação brutla de claustrofobia... sinto-me quase esgotada, esvaziada de ideias, anseio por mais ar fresco do que aquele que consegui recolher na hora de almoço, enfim, anseio por libertar-me deste sentimento de impotência que me ronda... procuro-te e não te encontro, encontro-te e logo te perco...