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2005/02/04

VerdeAzul...

Abriu os olhos... e sentiu a imersão no azul, claro e límpido, céu sem nuvens, mar sem ondas... simplesmente azul... ia jurar que conseguia ouvir a erva crescer em seu redor, tenra e fresca, em direcção ao céu e ao sol... o cheiro a terra invadiu-lhe as narinas, aroma primevo e primordial, recordação indelével na memória de outros tempos... a percepção de movimento desviou-lhe o olhar e observou os pássaros que ali (re)pousavam, debicando aqui e ali, ignorando a sua presença, como se fizesse parte da paisagem, do habitat... Como era possível ouvir o silêncio ali? Voltou a mergulhar no azul, numa vertigem doce de esquecimento de si e da realidade, pensando como seria bom que certos momentos nunca terminassem, numa volúpia de sentidos oscilando entre o verde e o azul, um quase adormecimento do ser, uma comunhão com a Natureza a que sabia sempre pertencer... O toque da realidade soou-lhe aos ouvidos... eram horas de voltar à rotina, recordavam-lhe uma reunião pseudo-fundamental... levantou-se, recolheu as suas coisas, retomou a aparência "corporativa"... riu-se com a quase hipocrisia da situação...
Olhou novamente em redor, despedindo-se do verde da relva, dos arbustos, das árvores, dos amigos pássaros... ergueu o olhar ao céu... tanto azul que apetecia guardar para sempre, como numa pintura de uma qualquer impressionista... Decidiu-se finalmente a abandonar este breve Eden... refugio de sonhos no meio do bulício, espaço selvagem no seio da cidade ruidosa, em movimento ininterrupto... dirigiu-se para a berma e ficou à espera do melhor momento para atravessar, escapando a um desses cavalos de ferro que teimavam em perseguir um qualquer incauto que ali tentasse chegar, àquela rotunda verdeazul, plantada no meio de uma praça qualquer, quase inacessivel aos conformados da vida...

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