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2004/09/19

Correio

Era um daqueles finais de tarde radiosos, em que o céu parece incendiar-se em laivos de laranja e púrpura, à medida que o Sol se afunda no horizonte. Tinha chegado a casa cansada e com uma sensação estranha e indefinida de algo por acontecer... procurou afastar tolices do pensamento, colocando a tocar uma das músicas preferidas, uma bem calma, como tanto gostava, resultado daqueles dias em que se sentia mais isolada do mundo...
Depois de pôr um ponto de ordem em casa, lembrou-se de ver o correio... era engraçado como se tinha tornado um ritual quase diário ver quem tinha dado notícias, quem se lembrava, mas sobretudo saber se ele lá estava. Sorriu com esse pensamento.
Era também verdade que havia algum tempo que ele não lhe telefonava, nem dava notícias, mas era uma pessoa tão ocupada, decerto o tempo havia sido curto... recordou novamente a sensação que a assolava há alguns dias e ficou com um nó na garganta. "Não..." pensou, tentando afastar uma vez mais do espírito essa ideia.
Sorriu... tinha correio!!! Leu em diagonal alguns emails reencaminhados, reenviou alguns, guardou outros para ver mais tarde, prolongando a expectativa e brincando com a vontade de ler imediatamente aquele que tanto esperara...
O Sol já se tinha escondido entretanto e a noite instalava-se calma, serena e escura... tinha-se esquecido de acender o candeeiro e o seu rosto brilhava com a luz do ecran. Começou a ler atentamente a mensagem que ele enviara. O sorriso inicial ia lentamente dando lugar à perplexidade, pura e simplesmente não queria acreditar que fosse possível aquilo que lia... não!
Um pedido de desculpas, uma incerteza manifesta, um reatar de outra relação, um isto, um aquilo, e finalmente, a certeza de que tudo não tinha sido mais do que uma breve ilusão. Sorriu amarga... enfim, ainda tinha o carinho de alguns, poucos, mas constantes amigos, da família, o trabalho, onde podia mostrar o que valia... o tempo encarregar-se-ia do resto, do "arquivar" no fundo da memória e do coração esta história, do erguer a cabeça e seguir em frente... sim, not all is ever lost, a someone shall provide... olhou pela janela a noite escura e ficou a observar as estrelas brilhantes, perdida nas memórias...

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