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2005/01/21

Ligaram-se...

Ligaram-se, estabelecendo pontes que colmataram a distância.
- Como estás?
- Estou cansada, mas bem... e tu? como estás?
- Também estou bem...
Desenharam-se sorrisos em ambos, cúmplices enigmáticos, significados mudos, desfilaram letras e sentidos, linhas de conversa e confidências trocadas... Despediram-se até ao dia seguinte, sempre com um sorriso, repleto de certezas e confiança... eles sabiam, e naquele momento foram omnipotentes, seguros e superiores a tudo o mais...
Ele partiu. Ela retirou-se para recuperar forças, depois de um dia esgotante. Depois, retomou o seu lugar na secretária, verificou a correspondência, actualizou a agenda, estranhou o silêncio e colocou algo a tocar, algo próximo de uma sensação de pureza e absoluto, pelo menos por aquele momento... Sigur Ros ia servir...
E foi então que aconteceu... uma energia renovadora invadiu-a, ainda dormente das palavras absorvidas antes, um frenesi absurdo, um apetite de combater com garras e o poder de uma lâmina fiel todos os demónios que afrontavam alma e corpo! Uma ferocidade avassaladora, um espírito guerreiro que assomou e se transcendeu enquanto vontade e ser... ultrapassando a força bruta das armas, recorrendo ao poder temível da pena, soltando as letras que brotam, animadas por uma força única que só ela reconhece...
E sobrevém-lhe o prazer de se sentir livre, sem limites, nem obstáculos intransponíveis... nada é impossível, nada! Sente-se invencível, dona e senhora de um Destino que traçou, que escolheu, sabe agora que aí reside a sua força, naquilo que sabe ser e nas suas convicções, porque pelo menos nisso será sempre única... desenha-se novamente um sorriso, que já traz mais que um enigma, significa vontade, consciência de si e poder, mais do que nunca emerge essa segurança, que sempre esteve lá, oculta, aguardando pelo momento certo, sabedoria de mulher que se sabe capaz de conquistar tudo a que se propuser...
Parou de escrever e espreguiçou-se languidamente, sorriu deitando um olhar pela janela em direcção à Lua e piscou-lhe o olho numa cumplicidade de séculos... as it was, as it is, as it will be, acordaram como ferro em brasa estas palavras no pensamento, onde sempre estiveram e estarão. Soltou uma gargalhada quando se lembrou dos que a rodeiam, blessed be the innocent, não era assim? nem imaginam quanta firmeza se esconde atrás do seu silêncio, não conseguem imaginar tudo aquilo que ela é, desistem rapidamente da dura tarefa de a cativar e conhecer, "poor fools" murmura...
Acabou-se o album, terminou a muscia, aproveitou e arrumou o caderno e a caneta de tinta permanente, desligou-se... deixando um sorriso bailar-lhe nos lábios, pleno de significados e entrelinhas...


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