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2005/04/10

Ficções...

"... é cansaço, muito intenso, muito profundo... um cansaço da alma que se reflecte no corpo. Sinto um vazio enorme cá no fundo, uma inutilidade de ser... quase como se tivesse deixado de ter importância estar ou não, ser ou não ser... por vezes assalta-me aquela bizarra sensação de que me tornei completamente invisivel e que ninguém dará pela minha falta... seria interessante desaparecer fundindo-me num quadro de Vermeer, diluindo-me entre as tintas e a tela ou a tábua... estaria e não estaria...
É estranho, eu sei, e terrivelmente injusto e egoísta... mas também há momentos em que sentimos esta tremenda necessidade de deixar de pensar sobretudo nos outros e nos virarmos um pouco para nós... para tentar sentir e descobrir aquelas pequeninas coisas que podem fazer toda a diferença... São momentos em que precisamos absoluta e desesperadamente de um abraço bem apertado, de um ombro onde é possivel simplesmente chorar sem dar explicações de nada...
Parece tolice, eu sei... logo eu, não é? Sempre com um sorriso, com uma piada ou uma brincadeira, disponível para uma conversa, uma palavra amiga, sempre numa aparente normalidade... porque realmente não costumo mostrar completamente o que se passa cá dentro... na verdade, creio que o meu cansaço vem daí, desta tentativa em manter-me à tona da água, de não demonstrar o que se passa comigo... resta-me acordar com a almofada molhada, resta-me depositar no papel aquilo que se passa na alma, resta-me..."
Coçou a cabeça com a ponta do lápis num acto quase reflexo, pensando no próximo passo, que rumo iria dar à conversa... Uma mão no ombro sobressaltou-o, nem tinha dado por ela a aproximar-se, estava a ficar mais sorrateira... Sorriu-lhe, guardou o texto e desligou o computador... No dia seguinte retomava aquele capítulo, terminava a conversa e dava um destino à sua heroína... havia tempo... agora, algo muito mais importante o aguardava...

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