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2005/06/14

As Palavras / Eugénio de Andrade (1923-2005)

são como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras, orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de meória.
Inseguras navegam;
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

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