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2005/06/16

Quem morre? / Pablo Neruda

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos,
quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor
e não fala com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão seu guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o escuro ao invés do claro e os pontos sobre os "is"
a um redemoinho de emoções,
exactamente a que resgata o brilho nos olhos,
o sorrisos nos lábios e o coração aos tropeços.

Morre lentamente quem não vira a mesa
quando está infeliz no trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto, para ir atrás de um sonho.

Morre lentamente quem não se permite,
pelo menos uma vez na vida, ouvir conselhos sensatos.

Morre lentamente quem não viaja, não lê,
quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da sua má sorte,
ou da chuva incessante.

Morre lentamente quem destrói o seu amor próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
nunca pergunta sobre um assunto que desconhece
e nem responde quando lhe perguntam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em suaves porções,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior
que o simples ar que respiramos.

Somente com infinita paciência conseguiremos a verdadeira felicidade!


PS: Lembro-me de ter lido este poema há algum tempo, anos mesmo... hoje voltei a ele por uma dica que quase me caiu no regaço, de alguém que não sei quem seja, mas que acha que me conhece o suficiente para dizer que me assenta como uma luva... talvez sim, talvez não, talvez só em parte, mas não deixa de ser uma belíssima reflexão sobre o Ser...
Toda A Gente e Ninguém... obrigada pela dica!

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