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2006/09/20


As túlipas...

Hoje morreu a última túlipa. Uma após outra, foram dobrando os seus caules delicados em direcção ao chão, tal como eu ia dobrando as minhas costas perante o inevitável.
Ainda me recordo demasiado bem do dia em que as trouxe do mercado de rua, sedosas e firmes, com um brilho doce, numa última tentativa. Ficaste a olha para mim, bem dentro dos meus olhos como se quisesses ler neles toda a nossa vida. E depois partiste, como se nada fosse, encerrada em silêncio, sem olhar para trás, como se eu já não fosse mais que uma recordação distante e quase esquecida.
As túlipas ficaram abandonadas em cima da mesa, reflectindo a serenidade atroz do destino próximo. Quando a porta finalmente se fechou num arremedo dramático, em vez de correr como um louco atrás de ti, o meu único pensamento foi para elas, as túlipas sedentas de atenção, tal como eu. E lá ficaram na jarra alta de vidro, que um dia tinhas comprado porque sim, até hoje, derramando pétalas pelo aparador, até não restar mais do que hastes esverdeadas dentro de água, sombras patéticas daquilo que foram.
Fico agora com a certeza de que tudo mudou e de que sou novamente livre para procurar o meu rumo. porque hoje morreu a última túlipa, levando com ela tudo aquilo que representaste para mim e te recusaste a aceitar.

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